Quando dizem que somos gente rara, não estão errados: basta olhar em volta. Todas essas pessoas tão sistematizadas, tão mecânicas em tudo o que fazem, nas coisas que gostam, nos discursos que repetem. Vê-se uma massa uniforme de cabeças sendo arrastadas na mesma direção, como quando as ondas do mar devolvem as oferendas encharcadas e disformes à beira da praia - devolvem num grito silencioso, implorando para que parem de insistir em crenças que não trarão resultado.

Observa-se, atualmente, uma juventude sem personalidade, agindo como uma manada de corpos de rostos apagados, eternamente caminhando rumo a nada; gastando a vida sem se preocupar com o sentido dela. Nós não somos assim, e isso servirá para a “dor do mundo”.
E quando nossa complexidade é apenas uma desculpa para manter afastadas as pessoas que temos preguiça de questionar? Poucas brigas valem à pena, e em geral são aquelas que começam quando compramos a dor alheia. Inegavelmente, quando nos expomos ou emprestamos nosso nome ao acaso ou ao incerto apenas por comodidade, é o momento no qual nossa privacidade “vaza” e nos tornamos alvo de críticas, sujeitos à avaliação e a julgamentos sem verossimilhança alguma ou, até mesmo, miseráveis.
Há pessoas que se alimentam de nossas fraquezas e permanecem em constante vigília, atentos aos nossos tropeços, prontos para rir de nossos tombos e apontar um ou o “dedo sujo” para nos acusar quando transparecemos culpa ou pena no olhar. Somos infiéis por natureza, e às vezes por obsessão ante provas concretas e fatos registrados. Não gostamos de estradas muito escuras, nem de sapatos apertados e muito menos de deuses inventados ou invisíveis. Somos descrentes porque optamos pela sanidade e ainda não precisamos apelar à justificativas doentias e mirabolantes para nossos crimes: nós assumimos - nós e todas as pessoas que vivem aqui dentro, usando nossa voz.
Somos mesquinhos, indisciplinados e verdadeiros ao extremo, contudo, somos admirados e desafiados e a inveja se revela em meio às tentativas falhas de nos humilhar. Ah, o prazer de vencer uma batalha sem sujar as mãos, sem erguer o tom, sem tirar os pés do chão é algo para quem anda de mãos dadas. Saímo-nos bem da situação, certamente sem nenhum arranhão, e até mais fortes depois de conhecer quanta gente pode surgir para nos apoiar, mesmo que ínfima seja essa porção. Somos gratos de fato, e prezamos a gratidão e a justiça bem dita, poder invisível em algumas mãos.
Andros Romontey.